quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Presente Noturno



Acordei de madrugada sufocado de calor.
Fui para a janela do quarto apreciar a noite e seu ardor.
A visão era: a varanda e a frente do quintal,
Iluminada por um único poste, de forma artesanal.
Uma goiabeira e uma jabuticabeira de cada lado,
À direita, uma palmeira imperial, menina ainda,
Em sua nobreza infinda,
Com seu crescimento desacelerado.
A cena foi animada pelo trânsito tranquilo dos gatos,
Em seus passos delicados.

De repente, um bater de asas nunca visto:
Esquisito,
Assustador,
Aterrador...

Pousou em um galho pelado da jabuticabeira,
Era uma coruja grande,
Com sua postura elegante,
Que, a mim se apresentava, pela vez primeira.

A uma distância segura, uma gatinha ainda filhote
Parou no meio do quintal, estarrecida...
Com aquela estranha visita,
Como quem analisa: será prenúncio de sorte?

Ficaram se entreolhando.
Minuciosamente se olhando.
A gatinha imobilizada,
A coruja, já mais relaxada.

Virava o pescoço analisando o ambiente,
Com a segurança
De quem sabe todos os passos de sua dança.
Pairava um silêncio eloquente.

Num movimento escandaloso,
Abriu as asas levantando vôo,
Causando-me um arrepio,
Oriundo do meu mais profundo vazio...
Pensei que ela iria atacar a gatinha, de alguma forma,
Por ela ter mergulhado em sua direção.
Parou meu coração.
Pensei em saltar a janela sem demora...

Como se isso fosse resolver,
O que, parecia, estava por acontecer.
Mas ela passou perto e desviou
Circulou e no mesmo galho pousou.

Volto a frisar a estranheza,
Quase aspereza,
Do formato de suas asas abertas voando:
Um sinistro encanto.

Não sei o tempo que nós três passamos ali.
Perguntei-me o que ela estaria fazendo aqui?
Qual a mensagem
Dessa magnífica paisagem?

A compreensão caiu sobre mim,
Com a clareza de uma história que chega ao fim:
De forma bem clara,
Diante daquela beleza selvagem e rara.

Meu espírito estava vestido da liberdade do condor.
Pronto para me libertar
E voar.
Mas, ainda não me livrei de toda dor.

Preciso antes, vesti-lo com a sabedoria da coruja:
Terminar de lapidar a conduta,
Para acontecer o alinhamento,
Que elevará todos os meus sentimentos.

Preciso me desapegar de Paraty
Antes de partir,
Para me vestir de Bahia,
Para sintonizar a nova sintonia.

Após a “brilhante” conclusão,
Dediquei-me, exclusivamente à contemplação.
Antes de ir embora, a coruja circulou de novo o quintal
Despedindo-se de nós, de forma magistral.

Dedico esse texto a meu amigo irmão parceiro musical Teddy!


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