sábado, 31 de outubro de 2009

Vendaval


Dez da noite.
Tudo tão calmo, que levanta suspeita.
O corpo, na cama, não se ajeita.
Os filhos todos dentro de casa,
Em busca de minhas asas.
Um silêncio absoluto,
Como se algo tivesse calado o mundo.
De repente, ele chegou com seu açoite.

Um vento enfurecido virou vendaval.
Agitou o mangue de forma descomunal.
Levantou o mar,
Curvou a serra,
Como quem quer desgarrar a terra.
Tirou quase tudo do lugar.
Veio com sua aterrorizante sinfonia:
Explosão absurda de energia,

Espalhando medo, onde nunca houve respeito.
Impondo respeito, onde sempre houve medo.

Magia visível,
Propícia a quem está sensível.
Excelente oportunidade para faxinar
A mente e as emoções,
Para esquadrinhar inéditas sensações.
Bastando, para tanto, respirar
E se concentrar
No poder do ar.
Janelas rangendo,
Portas batendo,
Árvores executando coreografias inusitadas,
Como se tivessem sido militarmente arregimentadas.

Tudo se rendeu ao fenômeno que acontecia,
Enquanto eu, a um só tempo,
Preocupava-me e agradecia.
Sempre tive admiração e respeito pelo vento.
Morando afastado da cidade,
Desenvolvi certa intimidade,
Com as suas formas de se fazer presente,
De passar por entre...
Acredito no poder adstringente,
De seu discurso eloquente.
A tudo ele altera quando passa,
O ambiente desembaça.

Levou-me a questionamentos,
Deportou os ressentimentos,
Adequou os posicionamentos,
Lavou-me os sentimentos.

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